Stitch Fix — uma sacoleira tech

Luiz Gustavo Amorim
4 min readOct 30, 2020

--

Essa é minha primeira semana na moda, na C&A e em São Paulo. Para aplacar um possível piripaque, nada melhor que papel e caneta dando conta de tantos termos, nomes e instruções. Também encontrei outro respiro dando uma folheada na vida de outras empresas, que estão navegando no mesmo desafio de moda.

Dei sorte de o “box” da Harvard Business School, com os 20 achadinhos de 2020, ter vindo com um artigo legal da Katrina Lake, CEO da Stitch Fix, uma startup americana de personal-styling.

Seguem abaixo umas notas, que me chamaram a atenção, assim como o link para quem quiser ler o artigo.

Big data tá na moda

Se alavancar em grandes volumes de dados, que estão mais abundantes e baratos de manipular, talvez já tenha se tornado fator crítico de sucesso para qualquer iniciativa de varejo. Operar varejo sem o domínio dos dados de seus clientes pode trazer desafios instransponíveis de sortimento e conversão, visto que o público tem necessidades cada vez mais nichadas.

São inúmeras palestras, cursos, artigos enaltecendo grandes feitos dos algoritmos: dirigindo carros, escrevendo artigos (2, 3) e até decidindo eleições (polêmico). Mas o interessante no case da Katrina Lake é mostrar como algoritmos podem ampliar a capacidade dos especialistas de um determinado domínio, para personalizar a jornada das consumidoras.

O serviço que a Stitch Fix se propõe a prestar não é tão diferente das sacoleiras, que visitavam nossas mães na época do telefone fixo.

- “Oi fulana, sua mãe está em casa”

- “Esta sim, vou chamar”.

- “Não precisa. Avisa que eu tô passando aí com umas roupinhas para ela”.

A sacoleira conhecia nossa mãe, chegava com roupas que de fato resolviam alguma necessidade. Ou, no limite, sabiam que nossas mães não resistiram a uma blusinha coringa, com caimento perfeito. Trocar também não seria problema, pois a amiga certamente retornaria em uma ou duas semanas.

A Stitch Fix lhe envia uma caixa com 5 peças personalizadas via algoritmos, mas com o crivo de uma personal stylist, escolhida para você também por um algoritmo. O serviço custa 20 dólares mensais (descontados se você ficar com algumas peças).

Com um sortimento de 700 marcas (na época do artigo), faturamento de 1,6 bilhões de dólares em 2019, e uma base de 3 milhões de clientes, as ações da empresa se aproximam do pico histórico desde o IPO em 2017 (link).

Se apresente para o robô

Para brincar, primeiro você responde um extenso questionário sobre suas preferências. Desânimo, né? Você nem sabe se quer comprar e já vem uma prova do Enem para responder. Mas é o mesmo modelo de sucesso do Pinterest, que já escreveu um artigo interessante sobre como extrair respostas dos usuários pode ficar ainda mais difícil depois que a brincadeira começa.

Alimente o robô regularmente

Atributos como cor, matéria prima, durabilidade, textura, modelo, tamanho, temporada e tendência (sempre muitos) são explorados estatisticamente, para decifrar padrões de roupas compradas, roupas devolvidas. A cliente continua contribuindo com a alimentação do robô ao responder cinco perguntas sobre cada peça… tudo é armazenado, explorado e modelado estatisticamente para aumentar a assertividade da próxima caixa.

Conte com o robô para escalar a capacidade humana

Em moda, algoritmos podem perder assertividade diante de tantas nuances nas inseguranças e desejos das pessoas. Por isso a Stitch Fix garante que suas caixas estarão sob supervisão de uma estilista, que tenha dado match com seu perfil. E esse casamento de cliente com estilista tem todos os cuidados para filtrar vieses das especialistas de moda (link)

Assim, se uma especialista entender que o algoritmo não acertou em uma determinada recomendação para sua caixa, a peça será substituída por alguma coisa que, na opinião de quem entende, vai lhe agradar mais. Talvez um pouco mais cara, talvez em uma variação inusitada, mas com certeza garantindo a sensação de “adivinhou o que eu queria”, que a sacoleira da família sempre soube reforçar a cada visita.

E se você tiver aquela pergunta difícil de fazer “quero um vestido para um casamento informal de tarde”, tiver grávida, ou tiver precisando de roupas para um novo momento de vida, é essa mesma especialista que vai lhe entender e ajustar sua caixa.

Escalar o trabalho de algumas dezenas de estilistas para recomendar 3 milhões de caixas por mês é humanamente impossível. Mas se 90% do trabalho repetitivo fica com o algoritmo, sobra tempo para os especialistas resolverem as sutilezas, o toque final para as clientes.

Nascimento de uma Data-Fashion

Já em 2018, a Stitch Fix contava com nada menos que 80 cientistas de dados sob um Chief Algorithms Officer, respondendo diretamente para a CEO.

Doutorandos em estatística, matemática, astrofísica e neurociência, espalharam-se pela empresa — com patrocínio da liderança — para acelerar diferentes problemas usando machine learning. E forjando uma cultura baseada em validação de hipóteses pelo caminho.

O empoderamento da ciência de dados na cultura aproximou marketing, logística, compras e demais áreas dos cientistas, acelerando inovação via machine learning muito além dos algoritmos para recomendação de peças para clientes:

· Algoritmo de recomendação para recompra

· Otimização de rotas no centro de abastecimento

· Redução de custo de estoque e abastecimento

· Eficiência de logística

· Machine learning para desenhar roupas específicas para uma proporção da população com determinada característica.

Vamos ouvir mais e mais casos como esse, pois diferentes segmentos estão acelerando em Big Data. Esse caso da Stitch Fix esta no link abaixo:

fonte: https://hbr.org/2018/05/stitch-fixs-ceo-on-selling-personal-style-to-the-mass-market

--

--

No responses yet